A produção de mirtilo está a gerar uma nova dinâmica no setor agrícola de Sever do Vouga, atraindo muitos jovens licenciados e ajudando a combater o desemprego, admitiu hoje a coordenadora de uma associação local.
“Neste momento, já estão instalados no concelho mais de 30 jovens agricultores que decidiram apostar na produção de mirtilo, de um total de mais de 120 produtores”, afirmou à agência Lusa Sónia Freitas, coordenadora da Associação para a Gestão, Inovação e Modernização do Centro Urbano de Sever do Vouga (AGIM), na véspera do arranque da quinta edição da Feira do Mirtilo.
Segundo a responsável, os cerca de 80 produtores do chamado “fruto da juventude” que existiam até há pouco tempo tinham entre 50 e 60 anos. Com o aparecimento, nos últimos anos, dos projetos dos jovens agricultores surgiu “uma nova dinâmica” no setor.
“A maior parte são jovens licenciados, que chegam com um espírito empreendedor muito bom. Já temos jovens agricultores com marcas próprias, a comercializar compotas, licores e chás e a aproveitarem a produção do mirtilo numa vertente turística”, contou.
Sónia Freitas referiu que “são pessoas mais exigentes, que querem garantias de escoamento e que as empresas de comercialização façam o seu trabalho de prospeção” de mercado.
“Temos pessoas que querem vir do Porto e de Lisboa para Sever do Vouga plantar mirtilos. E temos muitos jovens que estavam desempregados e encontraram aqui uma alternativa”, referiu. Há ainda alguns casos de “mudança radical de vida”, como o de um arquiteto e de um engenheiro civil, que decidiram dedicar-se à produção de mirtilo.
Sónia Freitas sublinhou também a importância da criação de postos de trabalho, ainda que sazonais, durante a apanha do fruto.
“É sempre mais uma fonte de rendimento para as famílias, porque é precisa muita mão de obra e tem de ser subcontratada. A apanha faz-se de finais de maio até julho/agosto e os produtores estão a apostar em variedades tardias para conseguir prolongá-la até princípios de setembro”, explicou.
Segundo a coordenadora da AGIM, a produção anual de mirtilo no concelho tem vindo a aumentar, estimando que, graças aos investimentos dos últimos dois anos, esteja neste momento a atingir as 130/140 toneladas.
Cerca de 80 por cento da produção é exportada para países da União Europeia como Holanda, Bélgica e França, mas o consumo nacional tem aumentado.
“Pena é que o fruto não chegue um pouco mais barato ao consumidor final, devido às cadeias de comercialização, que levam grande parte das margens de lucro”, lamentou, explicando que custa ao consumidor final cerca de 20 euros o quilograma, quando o produtor recebe apenas 4 ou 4,5 euros.
Na Feira do Mirtilo, que é promovida pela AGIM, em parceria com a Associação Empresarial (SEMA) e a Câmara de Sever do Vouga, um quilograma destes frutos embalados custará cerca de oito euros, ou menos, se for a granel.
O programa da feira, que decorre até domingo, inclui visitas a plantações de mirtilo, degustações, workshops de culinária e pastelaria para adultos e crianças e palestras, entre outras atividades.
Conhecido como a “Capital do Mirtilo”, o concelho de Sever do Vouga começou apostar na produção de mirtilo na década de 1990, na sequência de um estudo de uma fundação holandesa, que atestou as suas boas condições em termos de solo e clima.
FONTE: Bomdia.lu