Os candidatos portugueses selecionados para trabalhar na construção no Canadá terão que pagar 3.500 euros de despesas administrativas, além da viagem, anunciou hoje a empresa de consultoria responsável pelo recrutamento.
Segundo Humberto Simão, da Pro Legal Consulting Group – que está a intermediar a seleção de trabalhadores portugueses de construção para 350 a 400 vagas abertas por empresas canadianas – cada candidato selecionado pagará uma “quota inicial de 825 euros” e o restante valor em nove prestações a descontar no salário.
“Ninguém paga para trabalhar no Canadá, mas existem vários passos que têm que ser dados no processo”, explicou aos jornalistas, no Porto, à margem da primeira de sete sessões de apresentação que a Pro Legal vai realizar até quarta-feira em várias cidades do país.
Entre os vários “passos” necessários, Humberto Simão destacou “a aprovação do Ministério do Trabalho no Canadá” e “os exames médicos que têm que ser feitos em Portugal e enviados para o Canadá”: “Existe uma logística muito grande no processo de que o empregador não trata, assim como a viagem, que não está incluída neste valor”, disse.
No total, disse, os “honorários” a cobrar a cada trabalhador pela “assessoria legal” prestada “variam entre os 4.500 a 5.500 dólares, cerca de 3.500 euros”, dos quais “15 por cento é pago no início e o restante em nove prestações”.
O objetivo é “chegar lá [ao Canadá] de cabeça erguida, entrar pela porta da frente e ser tratado como um canadiano e com dignidade”.
“O trabalhador entra com uma autorização de trabalho para dois anos, durante os quais tem todo o direito do canadiano: a esposa pode trabalhar, os filhos podem ir à escola e não é nada inferior nem superior, vai para ter os mesmos direitos dos moradores”, assegurou.
Os trabalhadores selecionados rumarão ao Canadá “dentro de um mínimo de três meses e um máximo de cinco a seis meses”, sendo enviados “em grupos de 10/12/15, dependendo das empresas”.
Na sessão de apresentação das condições oferecidas pelas construtoras canadianas que hoje decorreu no Porto – e a que se seguirão as do Marco de Canavezes (esta tarde), Maia e Gaia (na sexta-feira), Santarém (na segunda-feira), Seixal (terça-feira) e Lisboa (quarta-feira) – participaram mais de 200 interessados.
Em declarações à agência Lusa, vários afirmaram-se dispostos a emigrar porque em Portugal “não há trabalho”.
“Aqui não há trabalho, isto está cada vez pior. Já estive em Espanha e França e gostei, compensa, ganha-se sempre mais um bocado. Aqui ganhava o ordenado mínimo a trabalhar oito horas por ia. No estrangeiro, sustento-me lá e ainda mando para cá e sustento a minha família”, disse à Lusa o trabalhador da construção Marco Silva, desempregado há meio ano.
Hugo Teixeira, de 31 anos, não integra a estatística do desemprego – trabalha na área da vigilância – mas diz que em Portugal “os salários não são bons” e está disposto a “deixar a família e os filhos” para “tentar melhor qualidade de vida”.
“Vamos ver as condições que apresentam e, perante isso, ver se vale ou não a pena. Não estou desempregado, mas aqui [no Canadá], à partida, vão dar melhores salários do que em Portugal”, afirmou.
Depois de vários anos em Espanha, França e Alemanha, Luís Henrique, de 45 anos, tem agora o Canadá no horizonte, convicto de que sem emigrar não tem “hipóteses”: “O que me traz aqui é trabalho, estava a trabalhar em França e, neste momento, estou desempregado. A minha família está toda aqui, mas infelizmente estou disposto a emigrar. Aqui não tenho hipóteses”, garantiu.
O anúncio, há várias semanas, de que empresas canadianas pretendiam recrutar trabalhadores portugueses para obras no Canadá, com salários brutos na ordem dos 5.000 euros por mês, despertou o interesse de vários candidatos.
“Em três semanas recebemos 13.000 chamadas, o que é revelador da falta de trabalho em Portugal. Até ao momento desapareceram cerca de 50.000 postos de trabalho [no setor português da construção] e até ao final do ano, se não forem tomadas medidas, mais 40.000 vão desaparecer”, afirmou o presidente do Sindicato da Construção de Portugal.
Segundo Albano Ribeiro, “há trabalhadores que já não têm subsídio de desemprego e estão a recorrer ao Banco Alimentar”, vivendo-se atualmente no setor uma “situação dramática” e sem precedentes.
“Se não se altera a situação pode haver uma revolta social dos trabalhadores do setor”, alertou.
Humberto Simão, da Pro Legal, justificou a aposta no recrutamento de trabalhadores em Portugal com a “grande fama” que estes conquistaram no Canadá.
“Os portugueses que passaram no Canadá deixaram lá uma grande fama, de grandes trabalhadores”, sustentou, recordando que aquele país “foi construído basicamente pelos italianos e pelos portugueses” e que, atualmente, “na construção civil, em Toronto, a maioria dos trabalhadores são portugueses e são muito bem vistos e queridos”.
Segundo explicou, as vagas disponíveis são na área da construção residencial privada, de “prédios de 30 a 70 andares”, sobretudo na região de Toronto, Ontário, e “um trabalhador que trabalhe 40 horas por semana leva para casa, limpos, 980 dólares por semana”.
FONTE: Bomdia.lu