A maioria dos luso-descendentes no Brasil abraçou outras profissões das dos seus pais, mas os que optaram por seguir a tradição da família no comércio são hoje os principais responsáveis pela revolução das padarias em São Paulo.
Estes luso-descendentes uniram experiência familiar a técnicas administrativas e passaram de simples comerciantes a verdadeiros empresários.
“A geração dos nossos filhos é formada [em universidades] e, com o suporte financeiro dos pais, conseguiu abrir negócios diferentes”, diz Antero José Pereira, presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sindipan).
O maior expoente da nova geração de negócios é a Galeria dos Pães, a primeira “megapadaria” de São Paulo, que é administrada por um filho e um neto de trasmontanos de origem pobre.
Inaugurada há dez anos, num bairro nobre da cidade, a Galeria dos Pães impressiona pelo tamanho. O estabelecimento nunca fecha, tem 520 funcionários e vende, por dia, mais de 30 mil pães.
Além das vendas diretas aos mais de 8.000 visitantes diários, a empresa também abastece todos os principais hospitais de São Paulo e até grandes eventos, incluindo a etapa brasileira da Fórmula 1.
Ricardo Guedes Oliveira, um dos proprietários, ainda era criança e já ajudava seu pai, filho de portugueses, atrás do balcão.
Hoje, Ricardo divide com o tio o controlo do negócio idealizado pelo pai, que morreu há três anos. Os três luso-brasileiros tinham diplomas universitários quando decidiram trocar a padaria tradicional pela nova empreitada.
A ideia de criar a Galeria dos Pães surgiu quando a concorrência dos supermercados começou a retirar clientes às padarias, na década de 90.
O caminho encontrado pela família Oliveira para sobreviver no ramo foi inaugurar um espaço que, além de vender pães e bolos, serve refeições e sandes, tem adega de vinhos e frigorífico com queijos importados.
A Galeria dos Pães hoje já não é mais o único estabelecimento com este perfil na cidade, mas muitas das suas concorrentes bem-sucedidas também têm filhos de portugueses no comando, segundo o sindicato do setor.
Ricardo atribui o seu sucesso à consciência, herdada da família, de que o negócio só vai para frente com muito trabalho e a presença constante de quem investe.
“Padaria é coisa de português, de gente que encosta a barriga no balcão e fica ali o dia inteiro”, considera.
Bomdia.lu