Os editoriais sobre a situação política e económica em Portugal sucedem-se. Esta quarta-feira, o «El Pais» preferiu dedicar a sua nota editorial à transformação do país, que passou de «aluno modelo a rebelde nas ruas», enquanto o «Financial Times» destaca o «Dilema de Lisboa».
Para o FT, Portugal é uma espécie de «lembrete» dos «graves constrangimentos que os políticos europeus estão a enfrentar»: o primeiro-ministro foi forçado a um «recuo embaraçoso» relativo à Taxa Social Única, que iria aliviar patrões e onerar trabalhadores. Na sequência desta decisão, «centenas de milhares foram para as ruas na semana passada, muitos reclamando que o Governo «estava a roubar a trabalhadores para dar aos patrões».
A análise do mais prestigiado jornal económico considera que o plano do Governo está longe de ser perfeito: «Desde o início da crise, os trabalhadores portugueses engoliram significativos cortes salariais. Atingir os salários foi mais uma vez não só uma opção politicamente tóxica; arriscou ainda deprimir os gastos dos consumidores, agravando a espiral recessiva em que Portugal caiu».
Jornal económico analisa descontentamento no país. E a forma de «seguir em frente, na corda-bamba» Mas ainda assim, o FT saúda a tentativa de baixar os pagamentos das empresas: «Como resultado imediato, Portugal seria mais competitivo nos mercados internacionais». E a tónica é posta no custo da unidade de trabalho: «apesar de estar a cair desde o início da crise, continua demasiado alto»; para o FT, «aumentar exponencialmente as exportações é a única forma, realista, de Portugal aumentar as suas taxas de crescimento no longo prazo».
Claro que idealmente o Governo deveria «agora encontrar um forma melhor de financiar esta medida» e até sugerem um aumento do imposto sobre a propriedade de forma a não afetar os salários dos trabalhadores. A isto, o Governo pode ainda aumentar a taxa máxima do IRS para distribuir os custos das reformas «de forma mais justa pela sociedade».
Num editorial em que analisa com profundidade os problemas do país, o FT diz ainda o que «Lisboa não deve fazer: reduzir a ambição do seu plano», acreditando que a «criação de emprego seria maior se o custo da Segurança Social pago pelas empresas caísse significativamente».
Neste impasse, o texto alerta para a necessidade de perseguir outras reformas estruturais, sobretudo as que induzam ao crescimento. E é aí que tudo se complica, com o «Governo a enfrentar o seu maior desafio»: «Enquanto o descontentamento cresce entre a população mais atingida pela austeridade, tornar-se-á cada vez mais difícil reformar a economia». Mas para o FT, a «única forma de Portugal seguir em frente, será encontrar uma forma de andar na corda-bamba».
FONTE: Bomdia.lu