Dois bombistas suicidas taliban fizeram-se explodir esta sexta-feira numa academia paramilitar no noroeste do Paquistão matando, pelo menos 80 pessoas. O ataque é anunciado como uma retaliação pela morte de Bin Laden a 2 de Maio.
“Esta é a primeira vingança pelo martírio de Bin Laden. Vai haver mais e maiores [atentados] no Paquistão e no Afeganistão”, ameaçou um porta-voz dos taliban do Paquistão, Ehsanullah Ehsan, por telefone à agência noticiosa britânica Reuters, não tendo sido contudo identificado o local da chamada.
O Movimento dos Taliban no Paquistão é aliado desde 2007 da Al-Qaeda de Bin Laden, o qual foi morto numa operação ultra secreta de uma unidade da Marinha norte-americana no complexo de Abbottabad, onde se crê que o chefe terrorista se mantinha escondido há seis anos. O movimento reivindicou mais de 450 atentados no Paquistão ao longo dos últimos quase quatro anos, com um balanço total de mais de 4.300 mortos.
O ataque de hoje no norte do Paquistão foi feito ao nascer do dia quando os recrutas se preparavam para entrar em autocarros que os levavam a casa para dez dias de licença, num descanso do treino que recebiam naquela academia em Charsadda, cidade de comércio, rodeada por campos de trigo, a 135 quilómetros da capital, Islamabad, na fronteira com o Afeganistão e a 35 quilómetros de Peshawar. A academia tomada como alvo era um centro de treino da polícia fronteiriça.
Um dos bombistas suicidas fazia-se transportar numa mota e o segundo, não se sabendo ainda ao certo como se aproximou do local, fez-se explodir já quando as forças de segurança e equipas de socorro se aproximaram do local da primeira explosão, à porta da academia. Dos mortos, 69 eram jovens recrutas daquela unidade paramilitar e os outros 11 civis; há ainda 140 feridos, dos quais 40 se encontram “entre a vida e a morte”, precisou o ministro sem pasta da província de Khyber-Pakhtunkwa, Bashir Ahmed Bilour.
“Eu estava sentado no autocarro e esperava pelos meus colegas. E então ouvi alguém gritar ‘Allah Akbar!’ [Alá é grande!] mesmo antes de uma enorme explosão”, contou Ahmad Ali, um dos jovens cadetes à agência noticiosa francesa AFP. “E pouco depois houve uma segunda explosão. Quando saltei para fora do autocarro reparei que estava cheio de sangue”, prosseguiu ainda esta testemunha.
Shafeeq-ur-Rehman, outro dos feridos, disse por seu lado à Reuters que ia num autocarro quando ouviu uma primeira explosão, mais fraca, seguida de uma segunda, mais intensa, que apanhou o autocarro.
“Porque é que estamos a ser mortos? Que guerra é esta? Que destino vai ser o nosso?”, perguntava um velho, de barba branca, enquanto recebia o corpo do filho, morto no ataque, no Hospital Lady Reading, na cidade de Peshawar.
Os ataques a campos de treino das forças de segurança no Paquistão têm-se repetido desde 2007, depois de um ataque do exército à Mesquita Vermelha em Islamabad, identificada como um centro de recrutamento de islamistas radicais. O atentado desta madrugada é já o mais mortal no Paquistão este ano.
Bomdia.lu