O pintor português Nadir Afonso sublinhou hoje o “trabalho genial” deixado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, falecido na quarta-feira à noite, e recorda-o como um homem “muito complexo e sentimental”.
Contactado pela agência Lusa, Nadir Afonso, que completou esta semana 92 anos, lembrou a colaboração que manteve nos anos 1950 com Niemeyer, quando exercia arquitetura no atelier do arquiteto brasileiro.
“Ele era um homem genial e deixou uma obra genial”, salientou Nadir Afonso, que acabou mais tarde por abandonar a área da arquitetura para se dedicar totalmente à pintura.
Nadir Afonso trabalhou também no atelier do arquiteto Le Corbusier, em Paris, e aí recebeu um convite para ir trabalhar com Niemeyer, no Brasil.
A proposta foi feita pelo arquiteto brasileiro de ascendência portuguesa Manuel Machado, outro colaborador de Niemeyer, que viajava na altura pela Europa e, em Paris, viria a conhecer Nadir Afonso.
Entre 1952 e 1954, Nadir Afonso foi colaborador de Niemeyer, primeiro no atelier do Rio de Janeiro e, mais tarde, em São Paulo.
“O Oscar era um homem muito complexo, era a sua genialidade, e também muito sentimental. Houve momentos em que se zangava e corrigia os meus projetos. Por vezes era injusto, mas depois arrependia-se e pedia desculpa”, recordou o pintor, cuja obra continuou a ser marcada pela arquitetura, através da representação de cidades de todo o mundo.
Nadir Afonso recordou ainda que Niemyer lhe confiou a abertura do atelier em São Paulo.
Em 1954 o arquiteto português voltou a França, mas continuou corresponder-se com o arquiteto brasileiro, mantendo uma relação de amizade.
Niemeyer estava internado no hospital Samaritano, em Botafogo, Rio de janeiro, desde 02 de novembro, devido a uma desidratação. No período em que esteve no hospital, sofreu também um agravamento das suas funções renais e uma hemorragia digestiva.
Uma infeção respiratória foi diagnosticada na última terça-feira e o arquiteto passou a receber respiração assistida. Niemeyer faleceu às 21:55 de quarta-feira (23:55 em Lisboa).
Niemeyer morreu precisamente 10 dias antes de completar 105 anos de vida.
LUSA