Domingos Domingues, mestre-empreiteiro do claustro dionisino de Alcobaça, assumiu a direcção das obras, sendo sucedido após a sua morte por Estêvão Domingues, a quem coube a conclusão da igreja (sagrada em 1330) e a construção dos claustros.Contíguo ao Mosteiro mandou igualmente a Rainha D. Isabel construir um hospício para recolhimento de pobres de ambos os sexos e um Paço para si onde, após a morte de D. Dinis, se recolheu. A planta da igreja apresenta a tradicional separação do coro das monjas da zona dos fiéis e dispõe de três naves de sete tramos rematadas em cabeceira tripartida, sendo de notar a ausência de transepto, o que possibilita a maior largura do claustro que se desenvolve a Sul. Efectivamente o conjunto monástico destaca-se no panorama do gótico português quer pela escala da igreja e do claustro, quer também pela singularidade das naves da igreja serem de altura análoga e integralmente abobadadas em pedra (em vez da cobertura em madeira, usual nas ordens mendicantes).
Dada a proximidade do rio Mondego, a história deste espaço foi desde logo moldada pela invasão das águas. A primeira inundação ocorreu no ano seguinte ao da sagração, e a partir daí as repetidas cheias do rio provocaram o progressivo assoreamento do mosteiro, e determinaram algumas transformações no edifício. No século XVI, o claustro estava já permanentemente alagado de Inverno e de Verão, pelo que no início do século seguinte, entre 1612 e 1616, foi necessário construir um andar superior à sua volta e um piso intermédio ao longo das naves da igreja (reduzindo assim a metade a sua notável verticalidade gótica), abandonando-se definitivamente a parte inferior do templo. Em 1677 dá-se a inevitável transferência da comunidade para o mosteiro de Santa Clara-a-Nova, construído mais acima, no Monte da Esperança, razão porque passou este a ser conhecido por Santa Clara-a-Velha. Este abandono e a imersão nos sedimentos e águas, ao causar o desmoronamento e ruína da estrutura claustral, permitiu também que a parte inferior se mantivesse inalterada durante os séculos seguintes, sem intervenções e acrescentos estilísticos posteriores. Entre 1995 e 1999 procedeu-se a uma vasta campanha arqueológica, rebaixando-se o nível freático, através do bombeamento permanente das águas, para permitir uma escavação mais próxima do ambiente "seco", e que levou à desobstrução da igreja e do claustro até à cota do pavimento, pondo a descoberto as estruturas arquitectónicas até então enterradas e submersas, contribuindo com novos dados para a história da arte e da arquitectura portuguesas.
No processo de escavação, foram encontrados abundantes e diversificados materiais, quer em associação aos enterramentos, quer aos vários espaços conventuais – espólio representativo do quotidiano da comunidade monástica : o estudo dos adereços e adornos, dos instrumentos e utensílios, das ossadas, dos restos de cozinha, da cerâmica, dos vidros e dos têxteis, etc. permitirá o avanço do conhecimento dessa mesma comunidade e das suas vivências.Projecto interdisciplinar, o estudo global do conjunto monástico permitiu abrir múltiplas e complementares frentes de trabalho e investigação em campos tão diversos como a geologia, a botânica, a antropologia, a modelação virtual (http://sta-clara-a-velha.ccg.pt). Dada a importância das descobertas, e no âmbito do projecto de recuperação e requalificação do mosteiro, foi lançado em 2002 o "Concurso internacional para o projecto de valorização do mosteiro e terrenos envolventes", que contempla a construção de um edifício que albergará o Serviço Dependente (instituído pelo DL n.º 120/97 de 16 de Maio), o qual inclui um núcleo museológico e de investigação. A conclusão de todo este projecto (em fase de execução a curto prazo), e a abertura permanente ao público está prevista para 2007.
Lígia Inês Gambini
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Endereço : Serviço Dependente do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha Rua das Parreiras – Santa Clara 3040-266 COIMBRA
Horário : Programa regular de visitas condicionadas – de 15 de Abril a 15 de Outubro (3ªas a Domingos) No restante período do ano as visitas têm carácter excepcional, sendo indispensável a marcação prévia em grupo.
Informações : Tel : 239 80 11 60 ; Fax : 239 80 11 69 ou e-mail : mosteiroscvelha@simplesnet.pt
Ingresso : O custo é de 3€, incluindo a entrega do guia-desdobrável sobre o sítio. A entrada será feita pelo portão nascente, onde será feita a recepção dos visitantes.
Telefone : +351 239 801 160 Fax : +351 239 801 169 E-mail : drc.ippar@ippar.pt URL : http://sta-clara-a-velha.ccg.pt