Em Bruxelas, muitos são os portugueses que celebram o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. A 16 de Junho, a Praça Van Meenen, em Saint-Gilles, voltou a ser prova disso.
Todos rumaram à Bélgica na esperança de encontrar melhores condições de vida naquelas paragens. Uns chegaram há mais de 20 anos, outros contam apenas meses. Mas ninguém esquece as raízes que os unem, a língua que não estranham ou os sabores familiares que tantas saudades lhes deixam.
Organizada pela Federação das Associações Portuguesas na Bélgica, a festa do “Dia de Portugal” reuniu milhares de portugueses na praça Van Meenen, transformada, por algumas horas, em palco de hábitos lusos, com bandeiras, cachecóis e vestimentas de cores nacionais.
“É uma festa popular para comemorar o Dia de Portugal e que permite que o movimento associativo sediado na Bélgica se junte para angariar fundos. É, também, um ponto de encontro anual, onde as pessoas se vêem”, referiu Manuel Taveira, o apresentador de serviço.
No recinto, marcaram presença 17 associações portuguesas. Para o presidente da Federação das Associações Portuguesas na Bélgica, António Gomes, a “batalha é realizar esta festa para que as associações tenham fundos”.
Não faltou, também, venda ambulante de gelados, stands com doces regionais e, naturalmente, as tradicionais farturas. Por entre a azáfama de moldar a massa e verificar a temperatura do óleo, Henrique Canário, 37 anos, é o único a vender farturas. “O meu pai começou com isto e eu quis continuar”, justifica. O negócio, esse, correu sem sobressaltos, afinal, “faz parte da festa ter farturas”. “Também há belgas que vêm comprar e dizem que é bom”, revelou.
O mote para a festa acaba por ser “comer e beber”, brindando ao reencontro com os conterrâneos. “É uma maneira de reunir os portugueses e isso faz falta… Falamos de tudo aqui”, conta Adélia Rodrigues, 43 anos. Há uma década que vive na Bélgica e, desde então, comparece na festa. Traz a família e os amigos, aliciados, sobretudo, “pela sardinha e pelo chouriço”.
Natural do Peso da Régua, Amadeu Pinto Ferreira debateu-se com o calor dos assadores. No final do dia, garantiu terem-lhe passado pelas mãos 150 kg de sardinhas, 15 kg de febras, mais entrecosto e chouriço. “É um trabalho duro, mas o clima está bom, que não está muito calor.”
Há 22 anos em solo belga, Alice Amado também procura não falhar nesta data, porque “as pessoas estão juntas e conversam”. “É quando se encontra alguma pessoa amiga e como adoro dançar, ainda é melhor”, acrescentou.
Emigrantes são os embaixadores de Portugal
O Encarregado de Negócios da Embaixada de Portugal na Bélgica, João Terenas, elogiou a adesão à festa do “Dia de Portugal”, o que mostra que os portugueses “não querem deixar de vir”. “É uma oportunidade de reunirmos, degustar a nossa gastronomia e, ao mesmo tempo, é interessante verificar que as autoridades belgas estão presentes, o que significa o apreço que têm pelos portugueses.”
João Terenas considera que “essa enorme consideração” das entidades belgas pelos portugueses se sustenta nos laços económicos e sociais estabelecidos desde o século XV entre os dois países. “Os portugueses são os melhores embaixadores do nosso País”, sublinhou.
Com 38 anos vividos na Bélgica, Manuel Taveira é uma presença assídua, o que lhe permite perceber que a festa se tem tornado multicultural, “com participação das comunidades portuguesas, brasileiras e até belga, que vêm atraídos pelas sardinhas e pelo frango assado. “Os mais jovens não aparecem com muita frequência porque têm exames e ficam a estudar”, explica.
Animação & Música
Envergando trajes típicos do Ribatejo, o rancho folclórico Raízes de Portugal deu início à festa. De saias rodadas, avental preto e lenço na cabeça, os elementos proporcionaram um espectáculo com muito ritmo na ponta dos pés.
Seguiu-se a actuação do rancho folclórico da EMAUS e as marchas da APEB alusivas ao Santo António e que contaram com a participação de 22 elementos. Teve ainda lugar um desfile de moda, protagonizado pelo grupo de costura da associação EMAUS, que apresentou nove criações.
A animação musical ficou a cargo do cabeça de cartaz José Alberto Reis e a Bxl Band de Bruxelas encarregou-se do encerramento da festa.
Patrícia Posse (texto)
Mafalda Rebelo (fotografia)
[ Testemunhos na primeira pessoa ]