Uma família de emigrantes em França foi o ponto de partida para o luso-francês Ruben Alves se lançar na aventura da sua primeira longa-metragem. Aclamado pela crítica, o filme “La Cage Dorée” [“A Gaiola Dourada”] chega hoje, 1 de Agosto, às salas portuguesas.
Com Joaquim de Almeida, Rita Blanco, Maria Vieira e Jacqueline Corado nos principais papéis, “A Gaiola Dourada” retrata a vida da família Ribeiro, emigrada em França há três décadas, e o seu sonho de regressar ao país que a viu nascer.
Ruben Alves, o realizador desta comédia de costumes, inspirou-se nas suas vivências familiares para escrever o guião. “Foi o meu produtor, que me conhece bem, que me incentivou a falar da minha comunidade”, revela em entrevista ao NCF.
Durante algum tempo, o “pudor” travou-lhe a transformação das suas observações e dos seus sentimentos para o ecrã. “Cheguei aos 30 anos e pensei que era um bom momento para o fazer com maturidade. Estou muito ligado às minhas raízes, ao País dos meus pais, mas o filme fala da decisão de qualquer emigrante do mundo voltar ou não ao seu país de origem.”
Agosto, por tradição o mês em que muitos emigrantes regressam a Portugal, arranca com a estreia de “A Gaiola Dourada” em mais de 60 salas de cinema em todo o País.
Trabalho de bastidores
As filmagens de “La Cage Dorée” foram feitas em pouco mais de nove semanas e implicaram incursões à região do Douro Vinhateiro. No momento de definir o género cinematográfico, Ruben não hesitou: “adoro a comédia, porque podemos dizer muita coisa importante e profunda com alguma ligeireza”. “Gosto muito de dramas também, mas acho que a vida é uma grande comédia!”, frisa.
Rita Blanco entra em cena como porteira de um prédio parisiense e Joaquim de Almeida, o seu marido, trabalha na construção civil. Maria Vieira, Chantal Lauby, Roland Giraud, Bárbara Cabrita, Jean Pierre Martins, Lannick Gautry, Jacqueline Corado, Nicole Croisille, Alice Isaaz e Alex Alves Pereira compõem o elenco.
“Os actores aderiram logo ao projecto e gostaram do guião. Com a Rita Blanco, foi amizade à primeira vista, pois temos a mesma maneira de ver a criação artística. A história tocou bastante o Joaquim de Almeida, porque ele próprio é imigrante nos Estados Unidos há 37 anos”, sustenta o realizador.
Por outro lado, a banda sonora ficou a cargo de Rodrigo Leão, cuja sonoridade é “muito cinematográfica”. “Tem a sensibilidade que eu precisava para que esta comédia não fosse demasiado ligeira, para fazer sentir toda a nostalgia das personagens, a fatalidade, um pouco da alma portuguesa”, sublinha.
Emoções na plateia
Depois de o filme já ter sido exibido em várias salas, as impressões que chegam do público são “muito boas e tocantes”. “Diariamente, recebo várias mensagens de agradecimento. Muitos levaram os pais e os avós, que nunca tinham ido ao cinema na vida! Foram em família, aplaudiram e cantaram nas salas de cinema. Foi único”, conta Ruben Alves.
A adesão do público superou as melhores expectativas do realizador, que não contava com “este fenómeno dos imigrantes portugueses se identificarem completamente com o filme”. “Dizem-me: ‘este filme é o nosso filme’ e houve uma pessoa que fez um comentário que me marcou muito: ‘Obrigado, porque até agora a nossa imagem era uma mala de cartão com a Linda de Suza e hoje é uma gaiola dourada… De cartão passámos a ouro! Hoje, somos de ouro…’ Isso tudo com lágrimas nos olhos.”
Só nos cinemas franceses, “A Gaiola Dourada” ultrapassou um milhão de espectadores. Na Bélgica, foram mais de 30 mil. Ruben Alves admite que a humanidade e a sinceridade transpostas para a película são as principais responsáveis pelo sucesso de bilheteira. “Todos os actores estavam super empenhados… Foi um filme que os tocou muito e no qual queriam participar. Depois, o filme não tem nada de cinismo, de reivindicações. É só uma mensagem de amor. Com estes tempos de crise e de negativismo, faz bem ver um filme com ternura e bons sentimentos, no sentido nobre.”
Contudo, “A Gaiola Dourada” tem suscitado, também, uma crítica recorrente: o exagero dos clichés. Para o realizador, não há que ter vergonha: “mais de 80 % da emigração portuguesa em França trabalha nas obras e nas limpezas. Isso é a realidade dos nossos avós e pais que fugiram à ditadura de Salazar e que tiveram que fazer o que lhe propunham. É com muito trabalho e suor que estão a dar uma vida melhor aos filhos”.
Apesar de se reportar a um fenómeno que marcou as décadas 60 e 70, o filme não encontra paralelismo com a recente vaga de emigração que tem assolado Portugal. “É uma realidade diferente. Hoje, quem sai tem estudos e vem para encontrar trabalho e não para encontrar uma independência moral e intelectual como no tempo da ditadura”, considera Ruben Alves.
Na primeira pessoa
Encantos de Portugal: o Sol, o café e suavidade da vida…
Destino de eleição: Lisboa
Prato preferido: Bacalhau a Brás
Filme: “Sangue do meu Sangue”, do realizador João Canijo
Patrícia Posse (texto)
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