Financial Times encontra no papel higiénico preto e nos sapatos respostas para a pergunta: “O que pode produzir Portugal que o resto do mundo quer?”.
“O que pode produzir Portugal que o resto do mundo quer comprar?”, esta é uma pergunta muitas vezes repetida em Portugal desde que o país foi forçado a pedir ajuda externa há cerca de um ano.
É desta forma que o Financial Times começa um extenso artigo publicado hoje no qual realça o bom desempenho das exportações portuguesas e sublinha que esta performance não se deve apenas à forte procura de alguns países como à capacidade das empresas portuguesas de explorar novos mercados e ganhar maiores quotas.
“O papel higiénico preto favorito de Simon Cowell, um conhecido produtor de televisão, e os sapatos usados pela mãe e irmã da noiva no casamento do príncipe William e Kate Middleton estão entre as respostas menos esperadas que as empresas exportadoras portuguesas podem dar”, escreve o jornal britânico.
O FT lembra que o ritmo de crescimento das exportações de Portugal acelerou significativamente em relação ao ano passado e ajudou a reduzir o défice comercial devolvendo esperança a “um país atolado numa recessão profunda que luta contra um desemprego recorde e enfrenta um futuro incerto”.
Num artigo ilustrado com uma fotografia da mãe de Kate Middleton no casamento real onde esta usou sapatos made in Portugal, o jornal britânico recorda que no primeiro trimestre de 2012 houve um aumento de 11,6% nas exportações e uma queda de 3,3% das importações, de acordo com o INE e é com base neste dados que o governo português acredita que será possível sair da recessão.
O FT diz ainda que estas são notícias particularmente positivas num país onde os problemas, de acordo com Poul Thomsen do Fundo Monetário Internacional, são “exclusivamente estruturais”. Por isso, “mais do que nos acordos de resgate com a Grécia ou a Irlanda, o programa de resgate português é focado em reformas económicas para promover o crescimento baseado nas exportações e tirar o país da dívida”.
O artigo publicado hoje continua com exemplos concretos deste crescimento das exportações. Começando com o caso AutoEuropa, a segunda maior empresa exportadora em Portugal, que viu as suas vendas para fora da Europa crescer de 19% em 2010 para 32% nos primeiros três meses deste ano. A China é hoje o maior mercado para o seu coupé Scirocco, sublinha o FT.
“As exportações portuguesas para a China cresceram 76% em 2011, esta é uma das fases visíveis de uma diversificação que está a impulsionar o alto crescimento”.
“Uma parte muito significativa do nosso sucesso pode ser atribuído a factores portugueses”, diz António de Melo Pires, director executivo da AutoEuropa. “O país tem investido significativamente na educação e formação, especialmente em engenharia e fabricação”, acrescenta.
Já Luís Saramago, director de marketing, da Renova, sublinha que “o preço baixo dos produtos já não são uma opção para Portugal, porque haverá sempre alguém que pode torná-los mais barato noutro lugar”.
O Renova Black, um papel higiénico com design que ganhou uma espécie de status de culto, é apenas um exemplo da “inovação e diferenciação de produto” que o Luís Saramago considera essencial para ganhar quota de mercado no exterior.
Jorge Correia, fundador da Helsar, uma empresa familiar de calçado do Porto foi outro dos empresários ouvidos pelo FT e garante que nenhum produto sai da sua empresa sem a etiqueta “Made in Portugal”. “Alguns clientes italianos perguntam como devem rotulá-los: ‘ Made in Italy , mas eu nunca vou permitir isso “, garante.
Mesmo perante o “colapso” que o mercado do calçado enfrenta em Portugal, a Helsar conseguir fazer com que as exportações que cresciam a um ritmo de 9% há seis anos disparem para 70% actualmente. Os seus sapatos ganharam um prestígio especial quando dois pares feitos por encomenda para o casamento real foram usados por Carol e Pippa Middleton, entre outros convidados.
FONTE: Bomdia.lu