Nós Cá Fora – “A língua, a cultura, a juventude e a identidade” fazem parte dos principais objectivos do CCP. O que prevê para o melhoramento desses pontos ?
António de Almeida e Silva – Estamos a trabalhar com relatórios que foram elaborados a partir de pesquisas e situações estudadas em todas as comunidades. Esse documento mostra que a situação é de extrema carência, em certos casos é dramática. Agora vamos ter que entregar uma cópia à nova Ministra para avançar sobre essa questão, que para nós, é primordial.
NCF – A mudança de governo não ajuda em modo nenhum o CCP…
AAS – A democracia é isso mesmo mas é claro que vamos dar continuidade ao nosso trabalho.
NCF – O antigo governo foi pouco antento ao CCP, o que espera deste novo governo ?
AAS – Esperamos que este governo passe a reconhecer o papel de intercâmbio e que dê mais atenção ao Conselho. Nós não negamos a nossa colaboração e o nosso trabalho, queremos é ser convocados para isso.
NCF – Pensa que este governo vai aumentar o orçamento do ensino no estrangeiro, que foi significativamente reduzido estes últimos anos ?
AAS – É uma das nossas propostas. Para que o ensino seja melhorado, é preciso haver recursos. Como a gente diz, “não se faz omelete sem ovos”.
NCF – Está satisfeito com o orçamento que o CCP recebe ?
AAS – Absolutamente não. O orçamento foi diminuido em cerca de 10% num ano onde há o Plenário Mundial com os 96 conselheiros. Vamos ter que realizar esse Plenário com um certo sacrifício, constatando que para o antigo governo, a emigração portuguesa não era prioritária.
NCF – Já pensou em colaborar com os deputados da emigração que foram recentemente eleitos ?
AAS – Sim, já sabemos quem são os eleitos e pedi ao cabinete de ligação para convidá-los todos no próximo Plenário. De um lado, para lhes dar o nosso voto de confiança mas também para fazer um pedido explícito para que eles advogem as nossas causas, visto que também nos representam no Parlamento.
NCF – Como é que se poderia melhorar a ligação entre os emigrantes e o estado ?
AAS – O emigrante não gosta de ser esquecido porque ele não esquece o país. Porém, acho que o estado devia dar o primeiro passo, que comesse a tratar os emigrantes com mais respeito. Depois disso, penso que o estado terá a contrapartida.
NCF – Qual é o estado actual do associativismo nas comunidades ?
AAS – Lamentavelmente, observamos um associativismo envelhecido, diminuindo as suas actividades. Nunca teve uma preparação efectiva para organizar actividades que conseguissem motivar os jovens. Ainda podemos arranjar uma solução mas é evidente que o futuro do associativismo está em perigo.
NCF – O que poderia motivar os jovens a frequentar mais vezes as associações ?
AAS – Não adianta colocar os jovens em movimentos estancados, compartimentados ou colocá-los em cargos quaisquer. Ao contrário, acho que é preciso dar cargos de gestão como secretário geral, tesoureiro geral ou até a presidência, cargos em que o jovem vai ter uma real influência.
NCF – Em 2000, o antigo Secretário de Estado, José Lello, tinha anunciado a criação de um Conselho Consultivo da Juventude. Nunca mais se ouviu falar no assunto, é ainda um dos objectivos do CCP ?
AAS – Acho que é fudamental a realização de encontros entre os jovens luso-descedentes para que se sentem mais próximos da diáspora. Na altura, apoiei de maneira ostensiva essa ideia mas infelizmente, foi uma das iniciativas que se perderam com as mudanças de governo.
NCF – Alguns consulados abrem, outros fecham. Qual é o balanço do ano passado e o que prevê para 2005 ?
AAS – Havia um plano de restruturação consular que o Conselho criticou muito porque não passava na melhora de serviços mas apenas na vontade de os fechar, esquecendo muitos portugueses que têm de percorrer quilómetros para encontrar um consulado. Quando o antigo governo tomou posse do poder, fui directamente entregar um documento ao Ministro dos Negócios Estrangeiros que compreendeu as nossas razões e mandou a suspensão imediata de o encerramento dessas unidas. Agora, esperamos que o novo governo mantenha essa suspensão.
NCF – Como é que explica que 10 milhões de portugueses elegem 226 deputados, e outros 5 milhões apenas quatro ?
AAS – Vejo isso com vergonha e indignação. Acho que mereciamos um maior número de deputados na Assembleia da República. Não porque a qualidade dos deputados seja ruím mas porque precisava haver um número mais compatível com a grandeza que a nossa emigração tem fora de Portugal.
Pedro Rupio
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