17.4 C
Bruxelas
30 Setembro 2023

Entrevista com Jerónimo de Sousa

Nós Cá Fora – Boa noite Sr Jerónimo de Sousa, qual é a razão da sua vinda ?

Jerónimo de Sousa – Estando inserido na batalha das presidênciais, estes dias visaram fundamentalmente, um contacto mais directo com as comunidades portuguesas. Deslocámo-nos à Alemanha e à Bélgica, mas infelizmente, não nos foi possível ir ao Luxemburgo por razões de encerramento do aeroporto de Düsseldorf. Simultaneamente, queremos explicar a importância que têm as eleições presidenciais para nós.

NCF – Não é preciso fazer muitas pesquisas para perceber que o PCP é muito activo junto das comunidades, mesmo tendo em conta que os emigrantes não elegeram nenhum deputado comunista nas últimas eleições legislativas. Qual é a razão dessa falta de reconhecimento, um problema de imagem ?

JDS – Em primeiro lugar, temos sempre uma conduta parlamentar que não faz destrinça dos sectores e regiões que votaram ou não em nós. Se existe um problema concreto e justo, nós colocamo-lo independentemente da origem. É sabido que na sociedade portuguesa e junto da comunidade emigrante também, muitas vezes, o preconceito se sobrepõe a uma identificação com as nossas propostas, com as nossas posições. Quando esses preconceitos forem vencidos, teremos naturalmente um bom resultado de votação por parte dos trabalhores emigrantes.

NCF – Ficou satisfeito com os resultados da CDU nas últimas eleições autárquicas ?

JDS – Sim, foi um resultado em que ultrapassámos os nossos objectivos, fomos a única força política que subiu em votos, em mandatos, em percentagem e em número de câmaras municipais. Com uma outra característica política de grande relevância, que é o facto de a CDU ser a força maioritária na área metropolitana de Lisboa. Creio que a nível nacional ou internacional, há um reconhecimento que, ao contrário do que dizem alguns profetas e algumas profecias, demonstra que este partido está aqui para continuar, para se desenvolver e para crescer . Isso foi provado nas legislativas e foi provado nas autárquicas, com base nesse projecto, uma acção e intervenção quotidiana do nosso partido que não desiste perante as dificuldades.

NCF – Acha que as comunidades estão esquecidas pelo governo ?

JDS – Sim e é um problema que queremos resolver. As forças políticas, designadamente aquelas que têm tido a representação pelos votos dos emigrantes, esquecem-se rapidamente das promessas logo que as eleições passam e os governos fazem o mesmo. Obviamente, o emigrante que votou sente-se defraudado por essa prática que não corresponde às promessas. Para o orçamento de estado de 2006, quando apresentámos propostas concretas, designadamente as relativas ao ensino da língua e cultura portuguesas, que é uma questão crucial para as comunidades, pedimos um pequeno reforço de verbas e até isso o PS e PSD votaram contra. Outra verba de reforços para o CCP também foi rejeitada. Também proposemos a elaboração de um estudo para sabermos quantos emigrantes há no estrangeiro, e essa proposta foi igualmente rejeitada. São três exemplos que justificam o descrédito que os emigrantes sentem por estas forças políticas que não são capazes de cumprir as promessas.

NCF – O CCP tem tido um bom apoio por parte do governo ?

JDS – É uma questão importantíssima. O governo português fixado na obsessão do défice, não compreende o papel que podem ter os conselheiros das comunidades, designadamente nas suas acções, na suas participações, nas suas propostas, no conhecimento da realidade. É um órgão de consulta importante que daria uma dimensão de democracia participativa se tivéssemos um governo de ouvidos abertos, mas infelizmente, temos verificado uma grande indiferença às suas reivindicações principais. Sublinho duas em particular : O desenvolvimento das secções consulares e as questões do ensino da língua e cultura portuguesas. São as duas questões pelas quais o CCP se tem batido e não encontraram eco nem no anterior governo nem, infelizmente, neste.

NCF – Quais são as suas expectativas para as eleições presidênciais ?

JDS – Temos objectivos claros. Em primeiro lugar, no plano político, somos uma candidatura que se distingue de qualquer outra porque defendemos uma ruptura democrática com esta política, com este estado de coisas que está a levar Portugal numa situação de atraso e de desigualdade social. Uma candidatura que afirma claramente a defesa e o cumprimento da Constituição, não como um documento neutro, mas como um grande projecto que devia ser transversal da sociedade portuguesa, designadamente aqueles que defendem o progresso e o desenvolvimento do país. Em terceiro lugar, derrotar o candidato da direita. Não é uma questão de fulanização, mas sim das próprias dinâmicas e dos apoios que esse candidato tem, já que são os sectores mais ultra-neoliberais, os grandes senhores do sector financeiro, os grandes grupos económicos que constituem a base de apoio fundamental desta candidatura. Os mesmos que propõem a liquidação dos direitos dos trabalhadores e a desvalorização da Constituição. Portanto, mais do que contra o homem, é contra as questões levantadas pelas dinâmicas dos seus apoios que lutamos. É com isso que se preocupa a nossa candidatura e, nesse sentido, vamos para o combate com muita determinação, ainda nada está decidido, nada está resolvido…

NCF – …Mas tudo indica que é o Sr Cavaco Silva que vai ganhar com maioria absoluta

JDS – As sondagens nunca acertaram em relação aos resultados da CDU ou do PCP, dão sempre por baixo. Com base em estudos científicos, está provado que essas sondagens falham sempre, propositadamente na minha opinião, e em relação à vitória de Cavaco Silva, isso é estar a passar um atestado ao povo português que, praticamente sem sequer ter ouvido o homem falar, já teria decidido dar-lhe a vitória. Ainda falta a pré-campanha, falta a campanha eleitoral, faltam os debates e tenho a profunda convicção de que os resultados de 22 de Janeiro serão bem diferentes daqueles que as sondagens indicam.

Pedro Rupio

© Nós Cá Fora

Fótos : Nós Cá Fora

 

Artigos relacionados

Últimos artigos