Uma família portuguesa com duas crianças viveu durante 15 dias no carro, em Zurique, com o aquecimento ligado até avariar. Com o apoio da missão católica, os pais arranjaram emprego na Suíça e estão integrados.
Esta foi uma das histórias relatadas hoje durante um encontro promovido pela Obra Católica Portuguesa das Migrações e a Cáritas Portuguesa que reúne sacerdotes das capelanias portuguesas da Suíça, França, Luxemburgo, Reino Unido, Holanda e Alemanha. O objetivo é definir estratégias para lidar com a nova vaga de emigração portuguesa para a Europa, que está a criar situações problemáticas na maioria destes países.
Um caso emblemático é a Suíça, onde só no ano passado entraram 11 mil portugueses. Segundo Aloísio Araújo, a comunidade portuguesa está a aumentar dia após dia e isso nota-se nas igrejas, que se enchem de famílias, e na catequese, frequentada por milhares de crianças.
As novas vagas são diferentes da emigração tradicional, explicou, e incluem famílias e pessoas com 30 ou 40 anos, desiludidas com Portugal, bem como jovens qualificados à procura de novas oportunidades.
“Muitos não encontram emprego e acabam por ser acolhidos pelas famílias”, exemplificou, alertando que quando esta situação se prolonga acaba por desgastar os que são acolhidos e os que acolhem. Por isso, o sacerdote apela aos emigrantes já estabelecidos que não atraiam familiares sem contratos de trabalho, porque o mercado de trabalho na Suíça está saturado e cada vez mais competitivo.
“As missões são assaltadas por pedidos de ajuda”, referiu Aloísio Araújo, exemplificando com o caso da família que durante 15 dias dormiu no carro, no final do ano passado, e só com ajuda da comunidade conseguiu integrar-se.
Segundo o sacerdote, os pedidos de ajuda de emigrantes portugueses que chegam às missões na Suíça aumentaram nos últimos meses mais de 80 por cento em relação a anos anteriores.
Também no Luxemburgo se nota o aumento do número de emigrantes portugueses, disse o padre Remildo Boldori, da capelania portuguesa no país.
“Não sabemos seriamente quantos chegaram ou são novos”, mas nota-se, por exemplo, o aumento do número de pessoas que falam português na rua, quando se formam grupos nos momentos vagos ou à noite, disse.
As dificuldades que se sentem têm sobretudo a ver com a falta de emprego e de casa: “Temos bastantes casos de pessoas que estão a dormir em carros e atravessam a fronteira para não serem apanhadas pelas autoridades”, exemplificou.
Há também “pessoas que moram em barracas, em pequenas hortas. Não são muitos, mas são alguns”, disse. Além dos emigrantes que estão a chegar, há outros que já estão em dificuldades há dois ou três anos: “Dizemos-lhes para regressarem, mas têm vergonha ou medo que as famílias não os aceitem”.
O padre Pedro Rodrigues, da capelania portuguesa no Reino Unido, diz que já se nota um aumento do número de novos emigrantes, embora não seja possível quantificar. E teme que a situação piore quando os portugueses que estão a tentar entrar em países como o Luxemburgo ou a Suíça desistirem desses países, acorrendo antes para a Grã-Bretanha.
“Neste momento o Governo britânico limitou muito as ajudas, por isso vamos assistir em breve a situações dramáticas”, disse, referindo-se também aos casos de emigrantes que regressaram a Portugal há dois ou três anos e estão hoje a voltar ao Reino Unido.
FONTE: Bomdia.lu