No seguimento do desafio lançado pelo Nós Cá Fora.be a todos os eurodeputados portugueses, a social-democrata Maria do Céu Patrão Neves não hesitou em dar o seu contributo.
NCF: Quais os principais dossiers em que se está a trabalhar no que diz respeito às comunidades emigrantes?
MPN: Eu sirvo nas Comissões das Pescas e da Agricultura e Desenvolvimento Rural, pelo que só raramente terei uma intervenção directa em políticas relativas às comunidades emigrantes. A minha intervenção decorre sobretudo através, por exemplo, de contributos a relatórios diversos que possam abordar esta problemática.
NCF: Quais as políticas europeias a implementar nos países que registam grande afluência de emigrantes com vista a uma plena integração?
MPN: A primeira linha de actuação política em relação às comunidades emigrantes deverá desenvolver-se no sentido de criar e/ou implementar condições para a sua plena integração nas comunidades locais, quer através do domínio da língua, quer numa habitação não segregada, quer mesmo em aspectos bem distintos como sejam a facilidade de equivalência de estudos e/ou experiência profissional. Numa segunda linha, importa que a integração não seja sinónimo de desenraizamento, pelo que se torna importante que o emigrante mantenha o contacto e o orgulho nas suas raízes.
NCF: Como observa o fenómeno de “fuga” de jovens de Portugal?
MPN: A actual “fuga” de jovens de Portugal é duplamente preocupante: porque se trata de jovens e porque se trata de cidadãos com elevada formação académica e muitos em domínios de ponta. A sua saída de Portugal hipoteca a recuperação e o futuro do país. Espero que os jovens que hoje imigram mantenham as raízes em Portugal para que possam regressar assim que o país comece a ter condições para os receber e possam ajudar ao seu desenvolvimento com uma experiência enriquecida no estrangeiro.
NCF: Há forma e/ou interesse em travar essa realidade?
MPN: Os jovens continuarão a sair enquanto o país não lhes oferecer futuro. A única forma de inverter esta situação é o crescimento económico e a criação de emprego em Portugal.
NCF: Como é que os emigrantes de hoje podem ser apoiados nos países de acolhimento?
MPN: Os emigrantes devem ser apoiados nos próprios países de acolhimento a três níveis diferentes e em simultâneo: primeiramente, e na medida do possível, pelo seu país natal, que deverá facilitar o processo a nível burocrático e manter-se presente como apoio sempre disponível; no país de acolhimento através das estruturas necessariamente montadas para o efeito e, também, pela comunidade, quer a natural do país de acolhimento, quer a natural do país de imigração, através das suas estruturas de actividade cívica.
NCF: Há alguma estratégia para controlar a discriminação de que são alvo alguns emigrantes?
MPN: Tem necessariamente de existirem estratégias contra o racismo através de duas vias principais: a educativa e formativa, promotora de uma consciência moral e cívica de respeito e de tolerância em relação ao outro; e também a jurídica, através de legislação e policiamento adequados para prevenir, dissuadir e, se necessário, punir actos de racismo.
NCF: As remessas dos emigrantes portugueses atingiram o valor mais alto da última década. Como é que as comunidades emigrantes podem ajudar nesta fase crítica que a economia portuguesa atravessa?
MPN: Ajudam enviando as suas economias para o país e, também, podem ajudar abrindo canais entre Portugal e o novo país em que residem, promovendo parcerias ao nível das suas respectivas actividades profissionais.
NCF: Em relação às próximas eleições europeias, como é que se poderá estimular a participação dos portugueses de forma a evitar a elevada abstenção da última ida às urnas?
MPN: Dizendo a verdade sobre o que a União Europeia tem feito por Portugal em vez de se persistir no europeizar tudo o que de negativo acontece em Portugal e na nacionalização de todos os benefícios que a União Europeia nos traz. A este nível, o actual Governo tem sido essencialmente verdadeiro. O mesmo não tem acontecido com a oposição.
Patrícia Posse