Quando Diogo Lucas Soares concluiu os estudos académicos, a decisão de emigrar foi quase natural face à inexistência de saídas profissionais na sua área de formação. Na Bélgica, conseguiu uma oportunidade efémera.
Check-in nos Açores
Após a conclusão da licenciatura em Ensino Básico, Diogo integrou a equipa da Ecoteca de São Jorge, instalada na vila de Velas [Açores]. Durante esse estágio de meio ano, Diogo conheceu a namorada, uma psicóloga belga que viajou até ao arquipélago açoriano ao abrigo do programa Eurodisseia [foi criado em 1985 para aumentar as oportunidades dos jovens europeus iniciarem a sua vida profissional através da oferta de experiências de trabalho no estrangeiro].
De seguida, Diogo trabalhou na secretaria da Escola Profissional da Ilha de São Jorge e ocupava-se ainda dos alunos “quando faltava algum professor ou era necessário auxílio nas aulas”. No final do contrato, o jovem acabaria por aceitar o convite da namorada que, após um ano à procura de emprego na área de formação, entendeu regressar ao seu país.
Quando chegou à Bélgica, no Inverno de 2007, Diogo “não imaginava os números da emigração portuguesa neste país”. “Vim sem conhecer um único português emigrante. Só depois de estar na Bélgica há cerca de três meses é que falei com alguém em português, além da minha namorada. Foi com um cabo-verdiano que encontrei num bar em Bruxelas.” A língua acabou por ser “uma grande barreira” na chegada ao estrangeiro, uma vez que “nunca tinha estudado francês na escola”.
Outros rumos
Depois de cinco meses sem encontrar trabalho em solo belga, Diogo decidiu participar no programa Eurodisseia para facilitar a sua integração no mercado. Frequentou um curso intensivo de língua francesa e trabalhou num hotel na cidade de Namur. “Foram dias cansativos por ter de me levantar às 4h para apanhar o comboio que saía de Bruxelas às 5h e iniciar o trabalho às 7h”, lembra. Um dia, aproveitou uma folga e dirigiu-se à Embaixada de Portugal para entregar o seu curriculum vitae na esperança de que houvesse alguma possibilidade de trabalhar como professor do Ensino Básico.
Findo o estágio, Diogo bateu à porta de lojas e empresas à procura de trabalho, mas em vão. “Estava a ficar desesperado e via o meu regresso a Portugal por causa de algumas dificuldades económicas.” Contudo, foi apanhado de surpresa pela chamada telefónica da coordenadora do Ensino do Português no Estrangeiro (EPE), sugerindo-lhe que concorresse à rede de docência. Diogo ficou classificado em primeiro lugar e, entre 2008 e 2011, leccionou português em várias escolas primárias belgas. “Ainda que com horário incompleto, estava muito satisfeito por estar ocupado na minha área de formação académica e a viver em Bruxelas”, sublinhou. Assim, Diogo conheceu alguma estabilidade até que a difícil conjuntura económica ditou um outro período de desemprego.
Novas incertezas
“Acabei por ser uma vítima directa da crise ao não me renovarem o contrato. Recebi o subsídio de desemprego português durante três meses, até final de 2011, mas rapidamente tive de encontrar um trabalho sem qualquer exigência e contemplação.” Entretanto, foi tentando a sua sorte em estabelecimentos escolares de 1º ciclo que “estavam a precisar urgentemente de professores primários”. Acumulou algumas entrevistas, mas os directores argumentavam que o seu “francês regular não era suficiente”. “Fiquei muito preocupado quando esta história se repetiu algumas vezes…”, confidencia.
No último ano, Diogo tentou ainda uma colocação na rede do EPE numa qualquer região consular. “No início, éramos 520 docentes. Depois de uma prova de conhecimentos, passámos a ser 120 e, após o exame psicológico, ficámos 53”, relata. Aguardou a abertura do concurso para seleccionar as suas prioridades na “esperada colocação”, mas o concurso foi cancelado por decisão do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que “tanto defendia a educação na candidatura às eleições”. “Está a ser a razão objectiva de todos os problemas que se passam no EPE, porque o Instituto Camões, que faz parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, é que tutela o EPE.”
Desfeita a esperança de regressar à docência, este emigrante trabalhou durante um mês e meio num café português em Bruxelas e foi dispensado por ter pedido “um dia de folga para descansar”. No entanto, alguns dias depois, Diogo recebeu uma proposta de trabalho no Parvis de Saint-Gilles. “Sei que vou ter muito trabalho pelo número de horas, mas vou estar envolvido num bom e reconhecido café.”
Regresso a território luso
“Sempre que posso e tenho condições, regresso a Portugal. Quando estava a trabalhar como professor, ia a casa no Natal e no Verão. Este Natal, não pude ir e o próximo Verão está condicionado por alguns factores”, admite Diogo.
No país que o viu nascer, este emigrante reconhece que é “muito difícil ter independência a trabalhar num café ou noutra ocupação qualquer que não requeira formação académica”. “Ter casa, vida social e não depender de ninguém com o salário mínimo português é impossível”, salienta.
Se tivesse permanecido em Portugal, Diogo não tem dúvidas de que nunca teria trabalhado na sua área de formação, mas a crise está “a pairar” sobre toda a Europa e, daí, ter sentido na pele “a dificuldade exagerada” em conseguir uma ocupação profissional em Bruxelas. “Se a situação no estrangeiro continuar difícil e, caso consiga colocação na minha área de formação [em Portugal], terei de reflectir muito bem na minha decisão”, conclui.
Patrícia Posse