“Espelhos – canções portuguesas” é o mais recente projecto musical da Associação D’ARTE, cujo lançamento acontecerá no final de Junho, no Centro Cultural Jacques Franck, em Saint-Gilles.
Os versos de poetas portugueses fazem eco nas vozes de Cristina Rosal e Ana Milena Gaspar, ficando a parte instrumental a cargo de Pierre Gillet, Miguel Rosal e Thibault Dille. “Este projecto é o resultado natural de um trabalho que temos vindo a desenvolver deste o nascimento da D’ARTE e que, também, corresponde a uma vontade de registar as nossas experiências em palco. Depois de mais de dez anos, achamos que era tempo de fazê-lo”, justifica Cristina Rosal, directora artística e vocalista.
A opção de cantar na Língua de Camões e a ligação estreita com a poesia portuguesa explicam-se com naturalidade: “a poesia pode ser um bilhete de identidade de um povo. Facilmente identificamos Portugal com Camões, com Pessoa ou com Pedro Homem de Mello. Cantar as palavras destes poetas é, para nós, a diáspora em forma de música.”
Cristina Rosal considera ainda que a poesia lusófona é um habitat de musicalidade e espera que “a forma como a olhamos e interpretamos seja o espelhar alegre e afectuoso que sempre reflecte saudade, mares e gentes”. Quando cantam e tocam a lusofonia (popular ou erudita), o grupo revê-se nas palavras do escritor transmontano Miguel Torga: “é um efeito irremediável dum tropismo que nos anda no sangue e nos chama em qualquer parte do mundo”.
“Espelhos – canções portuguesas” é o primeiro trabalho discográfico conjunto, uma vez que alguns elementos do grupo já se estrearam nessas lides. Produzido em Março, o álbum inclui 15 faixas: “gostaríamos que as pessoas encontrassem neste CD a festa que quisemos fazer destes sons e destas palavras”.
Em 2011, algumas das canções que integram este álbum foram apresentadas em concertos realizados em Bruxelas e no Brasil, mas houve “alterações relativamente ao formato inicial”, tendo sido acrescentadas três canções e um instrumental inédito. “Estes concertos foram um início. Depois dos palcos nasceu a vontade de transformar esta experiência musical num registo permanente e acessível a mais pessoas através da produção de um disco.”
Lusofonia & Sonoridades
“Espelhos – canções portuguesas” nasce de um quinteto, em que três dos elementos são portugueses e dois, belgas. “Um dos portugueses tem ascendência alemã e um belga, brasileira”, informa Cristina Rosal.
Nascidos em Moçambique, Lisboa e Bruxelas, têm idades compreendidas entre os 20 e os 50 anos e partilham “o mesmo gosto pelo canto e pela composição musical”. “Temos referências musicais diferentes, mas, enquanto grupo, une-nos o jazz, a música brasileira e, naturalmente, o fado”, salienta.
O álbum, cujo lançamento oficial está agendado para 29 de Junho, dará “um eco importante da D’ARTE e deste grupo”. “Depois dos concertos e das digressões, gostaríamos de lançar um novo CD só com inéditos”, avança a directora artística.
Para já, o grupo tem concertos confirmados na Bélgica, a 26 de Setembro (The Music Village), a 21 de Novembro (Théatre Molière) e a 14 de Dezembro (Rataplan). Ainda em curso, está a possibilidade de fazerem uma tournée no Brasil, em Outubro. “Esperamos, também, iniciar uma digressão em Portugal. Será como fazer a rota inversa , partir do Brasil para chegar a Portugal”, refere.
Público multicultural
Cristina Rosal reconhece que a receptividade do trabalho desenvolvido pela Associação D’ARTE tem sido “significativa e, sobretudo, duradoura”. “Desde do primeiro concerto de homenagem a Amália Rodrigues, temos mantido um público multicultural que nos apoia e acredita no nosso trabalho.”
A prová-lo está a forma como responderam e contribuíram para a realização de “Espelhos – canções portuguesas”. “O projecto foi colocado numa plataforma de financiamento colectivo e obtivemos 109% do montante necessário para gravar o CD. Mais de 160 pessoas contribuíram para o nosso CD, provenientes de 10 países diferentes. Este é o público da D’ARTE”, orgulha-se Cristina Rosal.
Decorria o ano de 2002, quando surgiu em Bruxelas a Associação D’ARTE, que tem por lema apoiar jovens artistas (profissionais e amadores), privilegiando trocas interculturais, produzindo e promovendo espectáculos musicais que divulguem a música lusófona. “Nasceu do prazer do canto e da música, da felicidade dos encontros. As forças vivas de D’ARTE são amizades, talentos, acasos e convicção”, sentencia.
Patrícia Posse