Isidro Gonçalves trocou Portugal por outro país em crise, mas o emigrante diz que as dificuldades que a Irlanda atravessa não se comparam com as que enfrentam os portugueses. Aos amigos, o jovem recomenda a mudança.
“Avancem, tentem. (…) Sair do país e procurar algo é quase de certeza melhor do que ficar a queixar-se de que está tudo mal”, diz.
E Isidro sabe do que fala porque em quatro anos já emigrou duas vezes.
A primeira foi no final de 2008, quando o profissional das tecnologias de informação (TI) decidiu despedir-se e procurar emprego na Irlanda, o que encontrou passadas três semanas.
Ao fim de um ano voltou para Portugal, mas no final de 2011 decidiu voltar a sair e mudou-se para a Irlanda, onde tenciona ficar.
“Vim um ano [para a Irlanda] para ver como seria viver fora do país, longe da família e dos amigos. (…) Em Portugal, durante dois anos estive a pensar no que tinha acontecido e achei que valia a pena” voltar a emigrar.
Das duas vezes, as motivações foram as mesmas: “Não tanto a questão monetária, mas ter um futuro à minha frente. Em Portugal ficaria estagnado na mesma empresa durante anos, enquanto aqui é muito mais fácil progredir na carreira”.
O destino foi escolhido pela língua, pela proximidade, e porque comparada com Inglaterra, o outro país de língua inglesa na Europa, a Irlanda tem um estilo de vida mais calmo.
Além disso, a Irlanda tem “muitas empresas de TI, o que “facilitou muito” a vida a Isidro.
Quanto ao facto de o país ter sido o primeiro da zona euro a entrar em recessão, no início de 2008, Isidro garante que “as dificuldades que a Irlanda teve – e ainda tem algumas – de longe não se comparam com Portugal”, que está, na opinião do jovem, “em muito pior forma”.
“Mesmo em 2009 [quando a Irlanda era um dos países desenvolvidos mais atingidos pela crise], não se sentia tanto como em Portugal”, afirma, opinando que “o mau [na Irlanda] é o bom em Portugal”.
Isidro justifica a diferença com “a atitude das pessoas e do Governo”, recordando como a Irlanda “bateu o pé” e conseguiu manter baixo o imposto sobre as empresas e assim captar investimento ou como os cortes salariais foram aceites “porque as pessoas perceberam que seria bom para toda a gente”.
“Em Portugal foi diferente. Aplicaram as medidas de austeridade, cortaram os salários, mas as pessoas sentem que ficou tudo na mesma ou piorou”, lamenta.
Isidro diz que desde que regressou a Dublin, no início do ano, viu chegar “dezenas de portugueses” à procura de trabalho, não só na área das tecnologias, como na saúde.
Mas lamenta que muita gente tenha vontade de emigrar e fique “à espera que sejam as empresas no estrangeiro” a bater-lhes à porta.
“O espírito de iniciativa está a murchar em Portugal”, vaticina, alertando que a situação em que o país está devia ser “mais uma razão” para as pessoas escolherem agir em vez de se queixarem.
LUSA
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