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9 Junho 2023

Cannes: O dia em que Lars Von Trier disse ser nazi

Clique para ampliar O realizador dinamarquês Lars von Trier, que apresentou esta quarta-feira no Festival de Cannes o filme “Melancholia”, em competição pela Palma de Ouro, chocou os presentes na conferência de imprensa ao revelar que é um simpatizante de Hitler.


Lars von Trier já é conhecido pelo seu jeito provocador e pela falta de sentido de humor mas desta vez ultrapassou os limites aceitáveis pela imprensa que não percebeu os comentários e supostas piadas anti-semitas do dinamarquês.

“Eu achava que era judeu e era muito feliz por isso. Mas depois descobri que na verdade era nazi”, contou o realizador na conferencia de imprensa depois de ter sido questionado sobre as suas raízes germânicas, descobertas depois da morte da sua mãe em 1989. “Como sabem, a minha família era alemã… O que também me deu algum prazer.”

Mas o dinamarquês continuou afirmando compreender Hitler. “O que posso dizer? Eu compreendo Hitler. É claro que ele fez algumas coisas erradas mas eu consigo imaginá-lo no fim sentado no seu abrigo… Eu simpatizo com ele, um bocadinho.”

Depois de ter percebido que as suas declarações estavam a chocar os jornalistas e críticos presentes e mesmo Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, as actrizes protagonistas no seu recente trabalho, Lars von Trier tentou rapidamente remediar a situação, explicando que o facto de compreender Hitler não significaria que era a favor da Segunda Guerra Mundial. “Nem sequer sou contra os judeus. Na verdade, sou muito a favor deles. Todos os judeus”, acrescentou o realizador, deitando por terra a sua defesa em relação aos judeus quando diz que “Israel é “uma pedra no sapato, mas..”

Sempre num tom irónico que depois desculpou como humorístico, o realizador, que é um “habituée” de Cannes e que já venceu a Palma de Ouro em 2000, não conseguiu emendar as polémicas declarações e acabou por chocar ainda mais, desviando a conversa para Gainsbourg e Dunst e as suas actuações em “Melancholia”.

As actrizes não esconderam a admiração quando Von Trier disse que Kirsten Dunst insistiu para ser filmada nua, no que teria sido apoiada por Charlotte Gainsbourg. “É assim que as mulheres são, e a Charlotte está por trás disto. Elas agora querem fazer um filme hardcore e estou a fazer o meu melhor. Eu disse para termos muito diálogo e elas disseram que não queria saber das conversas e que só queriam era muito muito sexo. É o filme que estou a preparar agora”, contou o dinamarquês.

A organização da 64ª edição do Festival de Cannes não aprovou as declarações e exigiu uma explicação ao realizador de 55 anos, que pediu desculpa por escrito. “Se ofendi alguém esta manhã com as palavras que disse na conferência de imprensa, eu peço as mais sinceras desculpas”, escreveu Lars Von Trier em comunicado. “Eu não sou anti-semita nem preconceituoso ou racista em nada, nem sequer sou nazi”. Mas o caldo está definitivamente entornado. O homem que tentava cultivar uma imagem alternativa e original (Von Trier nunca anda de avião, e veio uma vez a Cannes numa velha carrinha 4L) mostrou agora que tem falta de jeito para o humor. Cannes já tinha recebido vários avisos como quando o dinamarquês fez uma infeliz curta metragem para comemorar os 60 anos do festival, assim como o lamentável “Antichrist” que chocou e que parece ter sido criado exclusivamente com esse objectivo. Desta vez, Lar Von Trier criou uma reacção unânime: a aversão.

Raúl Reis, em Cannes

(A imagem que ilustra este texto é uma fotomontagem nossa com base numa imagem de Von Trier durante o “photo-call” desta quarta-feira em Cannes. Não tem muita graça mas talvez Lars, com o seu humor especial, ache que sim…)

Bomdia.lu

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