Antuérpia é o palco escolhido por António Zambujo para apresentar “Quinto”, o seu mais recente álbum, em território belga. Esta noite, às 20h30, a voz do fadista português ecoará no Zuiderpershuis. Em Maio, António Zambujo regressa à Bélgica para mais dois concertos.
A capa do seu último trabalho discográfico destaca uma mão cheia, em clara analogia ao número de álbuns gravados até ao momento. Em “Quinto”, o fadista alentejano é acompanhado por Bernardo Couto ou Luís Guerreiro na guitarra portuguesa, José Miguel Conde nos clarinetes, Jon Luz no cavaquinho e o Ricardo Cruz no contrabaixo e na direcção musical.
NCF: Quais as suas referências musicais?
AZ: A minha primeira memória musical é da música tradicional da minha região [Alentejo] e foi o que me fez ter vontade de cantar e tocar. A seguir, veio o fado. Acho que esses são os dois pilares onde assenta a minha música. Mais tarde, por formação e por gosto, comecei a interessar-me muito por jazz, música popular brasileira e as mornas de Cabo Verde.
NCF: Qual o balanço que faz do seu percurso artístico?
AZ: Faço um balanço positivo. Só faço o que gosto e acho que isso é o mais importante.
NCF: Tem tido alguns ecos da receptividade do seu trabalho na Bélgica?
AZ: Estes serão os meus primeiros concertos na Bélgica, então acho que as pessoas ainda não tiveram oportunidade de ouvir a minha música, apesar de o disco estar cá à venda.
NCF: No início do mês lançou o quinto disco da sua carreira. O que se pode esperar deste trabalho?
AZ: Cada disco é o registo do momento que estou a passar. Neste reflectem-se todas as influências que referi e vem um pouco na continuação dos discos “Outro sentido” e “Guia”. É um disco de originais com músicas minhas, do Ricardo Cruz, do Pedro da Silva Martins dos Deolinda, do Miguel Araújo, do João Monge, da Maria do Rosário Pedreira, do Nuno Júdice e dos brasileiros Márcio Faraco e Rodrigo Maranhão. Espero que agrade ao público.
NCF: Afirmou que as viagens influenciam sempre um disco. Quais as impressões mnemónicas que estão por detrás deste novo disco?
AZ: Todas as viagens que fizemos nos últimos dois anos, os festivais em que participámos, tudo isso estará seguramente neste disco.
NCF: O que é que a população belga e as comunidades de emigrantes podem esperar dos seus espectáculos na Bélgica?
AZ: Os meus concertos têm sempre por base as músicas dos meus discos. Será isso que o publico, que espero que seja muito, irá escutar nos meus concertos.
NCF: Quando está em palcos além-fronteiras, sente que o fado continua a ser um forte elo de ligação dos emigrantes com o seu país de origem?
AZ: Infelizmente, nunca tenho muitos emigrantes nos meus concertos. Não sei se é porque não revêem na música que faço… As salas, felizmente, estão cheias, mas sempre com poucos portugueses.
De relance pela biografia
António Zambujo nasceu em Beja, em 1975. Cresceu a escutar o cante alentejano e começou a estudar clarinete com oito anos, no Conservatório Regional do Baixo Alentejo. Finda essa formação, decide rumar a Lisboa, onde Mário Pacheco, intérprete e compositor de guitarra portuguesa, lhe abriu a porta do conhecido Clube do Fado, onde passou a tocar.
Posteriormente, António Zambujo integrou o musical Amália, dirigido por Filipe La Féria, cabendo-lhe a interpretação de Francisco Cruz, o primeiro marido de Amália. Em 2002, lança “O mesmo fado”, o seu primeiro trabalho discográfico. Dois anos mais tarde, edita “Por meu cante”, onde recupera temas do Cancioneiro de Beja para fundi-los com novas tendências do Fado.
Em 2006, António Zambujo é galardoado com o Prémio Amália Rodrigues, na categoria de “Melhor Intérprete Masculino de Fado”. “Outro Sentido” (2007) e “Guia” (2010) foram os trabalhos editados antes de “Quinto”.
Patrícia Posse